Projeto Escreva Comigo
Em 2002 propus à Regional Sul 1 da rede estadual, visitar semanalmente uma escola diferente da região e escrever histórias com alunos do 4º ano do ensino fundamental. Na ocasião, aproveitaria para mostrar o porquê da Leitura e como é feito um livro.
O objetivo era reforçar a aproximação criança-escrita e criança-leitura, criando uma atmosfera que valorizasse o objeto-livro. O papel ativo que o aluno teria nesse encontro seria valioso para desinibi-lo com leitura e escrita.
A coordenação da Regional entendeu que meu trabalho poderia ser muito útil na série de recuperação de ciclo, o 4º ano dos alunos que não apresentavam condições para entrar no ciclo II do Ensino Fundamental. A rigor, um 4º ano repetente.
Em 2002 e 2003, com um notebook e uma caixa cheia de livros e materiais de produção de livros (provas, fotolitos, etc.) visitei aproximadamente 50 escolas, produzindo o número equivalente de histórias, que foram para o site da Regional. As visitas duravam em média duas horas.
A partir de 2005 até 2008 passei a fazer o trabalho na rede municipal, junto à Regional do Butantã, com maior ou menor sucesso, dependendo exclusivamente da escola que visitava. Escolas e professores mais comprometidos determinavam classes mais curiosas, ativas, participantes, ainda que formadas por crianças com atraso com relação aos requisitos do ano.
Depois da escrita, o texto, devidamente identificado por escola e série, ia para o site da Regional do Butantã, às vezes acompanhado de desenhos das crianças e fotos da visita. A professora da classe também recebia uma cópia do texto e era orientada a desenvolver a atividade de reescrever/reformular/reinventar partes da história com os alunos, nas semanas seguintes. Muitas aceitaram a sugestão e no encerramento do ano letivo de 2007, várias escolas apresentaram belíssimas reformulações feitas em classe.
Em 2009 o projeto foi assumido pela ONG Parceiros da Educação e levado em escolas adotadas pela instituição. No final do ano, a Parceiros publicou um livro com as histórias criadas pelos alunos.
Ao longo desses anos, a exposição sobre a produção de um livro permitiu inúmeras digressões e dependendo da escola pude falar de forma mais abrangente sobre a escrita, sua gênese, funções, benefícios, etc. aproximando a escrita do universo e realidade dos alunos.
Foi sempre uma experiência muito gratificante, pois ao me permitir uma observação privilegiada do funcionamento das escolas públicas, passei a compreender melhor como são construídos alguns impasses. E me senti mais estimulada a avançar minha contribuição ao panorama educacional, dentro do que gosto de fazer, que é escrever e pensar a criança.
Ao longo dos anos, visitei cerca de 200 escolas, tendo contato com cerca de 6 mil alunos.