Este conto participou do projeto ESCREVA COMIGO pela internet.

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O mais animado de todos, como sempre, era João Guilherme. Deu até piruetas quando a professora Rosamira confirmou que desta vez a coisa ia sair mesmo: no final de semana de novembro, espichado com o feriado da Proclamação da República, todo 5º ano do Nossa Senhora das Mercês iria finalmente...

       ― Professora, que DA HORA!!!!! ― gritou João Guilherme, interrompendo a professora,  subindo na carteira e dando um salto respeitável.

       Sorrindo, a professora disse:

       ― Menos, João Guilherme, menos!... Vocês sabem que os arqueólogos vêm estudando a Serra da Capivara há muitos anos. E descobriram vestígios incríveis de seres humanos que viveram lá há mais de 50 mil anos.

       ― Professora... professora...olha só: a gente podia levar binóculo pra ver o tanto de bicho e passarinho que tem lá também, não é? ― Esse que falava agora só podia ser Beto, mais conhecido como cientista. Conhecia toda a fauna e a flora da serra que ficava, em São Raimundo Nonato, cidade onde moravam.

       ― Tenho uma ideia, tenho uma ideia... ―Maria, afobada como sempre, foi falando ― a Laura podia levar o celular dela com um aplicativo que ela inventou...

       ― Bem,  na verdade “adaptei” um aplicativo que baixei da internet, ― corrigiu Laura que para todos os efeitos era  A especialista em fuçar internet.

       E como a classe inteira, inclusive a professora, ficaram aguardando explicação, Laura continuou:

       ― O aplicativo consegue captar ondas eletromagnéticas de um local, e buscar passado remoto.

       A professora olhou com cara de “não acredito”.

       ― Verdade! É possível voltar ao passado, para conhecê-lo na tela de um computador ou celular que tenha esse meu aplicativo. Já acessei - o Beto me ajudou - o século XVII quando os jesuítas chegaram ao Piauí e tentaram catequizar os tapuias que viviam aqui.

       Como não era a primeira vez que essa turminha inventava novidade maluca, dona Rosamira fez “ahn, ahn” sorriu e concordou:

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      ― Então levamos nas mochilas, binóculo e celular. O celular-irado da Laura, é imprescindível, não se esqueçam...

      ― Além de um monte de miojo, barrinhas de cereal, caixinhas de suco, chocolate, pão com mortadela, beiju com carne...- era  Maria, sempre faminta, se precavendo para os três dias de acampamento. Vai que...

No dia marcado, todos chegaram bem cedo ao colégio de onde partiriam para a Serra da Capivara. Assim que o ônibus chegou, pularam dentro. Beto não parava de tirar fotos da turma e Maria, num cantinho, já começava a se alimentar. Os quatro amigos sentaram bem próximos.

Chegando à  Serra, a primeira atividade  foi  armarem as barracas. Em seguida, fizeram a primeira visitação aos sítios arqueológicos. Havia sete guias e os vinte e oito alunos foram divididos em grupos de quatro. João Guilherme, Beto, Maria e Laura ficaram no mesmo grupo. A Pedra Furada e o Boqueirão da Pedra Furada foram os primeiros sítios visitados. Antes de entardecer, ainda deu tempo de irem ao Baixão da Vaca. Nesses locais havia uma imensidade de pinturas rupestres muito importantes. No dia seguinte visitariam escavações arqueológicas.

Voltaram ao acampamento antes do escurecer e aguardaram instruções dos guias e da professora para fazer a fogueira.

 Laura saiu para buscar galhos secos e ouviu um ruído. Parecia ser de um animal. Curiosa e valente foi ver o que era. Era um tatu-bola que passava rastejando calmamente, sem dar bola pra turma. Seguiu-o por algum tempo até que o bicho se meteu na entrada de uma caverna, camuflada por folhagens. Voltou então correndo para o local da fogueira (já tinha um monte de galhos empilhados ali) e cochichou a novidade para os três amigos.

Claro que Beto, Maria e João Guilherme ficaram interessadíssimos em ver a tal caverna e, despistando, foram saindo. Mas  não de mãos abanando: Beto levou três lanternas, Laura um binóculo,   João Guilherme um belo pedaço de madeira pra defesa do grupo e Maria,  um pacote de biscoitos. E os celulares, evidentemente.

Ocupados com a fogueira, ninguém deu com a falta deles. Os quatro subiram e rodearam um morrinho, e com algum esforço, porque já estava escurecendo, localizaram a entrada da caverna. Entraram e seguiram em fila, pela trilha estreita.

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Caminharam alguns metros, desceram uma espécie de rampa e num recuo do paredão da caverna deram com um painel metálico, que parecia uma porta. Forçaram a entrada e viram que aquele objeto todo enferrujado em forma de cilindro podia acomodar algumas pessoas.

Foi Beto quem matou a charada:

      - Gente, isso é uma máquina! Olha só o painel de controle!

Nem deu tempo da turma admirar o sofisticadíssimo painel porque Maria, desastrada como sempre, esbarrou em algo. Imediatamente  várias luzes se acenderam e o painel  iniciou contagem regressiva: 10, 9, 8, 7 , 6, 5, ... Assim que chegou ao zero, ouviram um zumbido forte e tiveram a sensação de que estavam girando. O celular de Laura com o aplicativo do tempo ligado, trocava os números do visor com incrível velocidade: 2015...2014...2010....1972... 1013.. 500... Quatro cabeças se debruçaram sobre a tela e, assustadas, acompanharam, os números surgirem em ordem decrescente. De repente o zumbido parou e tudo ficou em silêncio. Os amigos se olhavam apavorados.

      - O que foi isso? - João Guilherme conseguiu balbuciar.

      -  E se eu disser que isto é uma máquina do tempo e que acabamos de voltar à Pré-História?  - disse Laura mostrando o celular, onde o seu moderno aplicativo indicava que tinham viajado para incríveis  12 mil anos atrás.

      - Tá de brincadeira, né? – falou João Guilherme com um sorriso amarelo.

      - Ah, me poupe Laura! -  disse Maria, - Até parece. Quer dizer que se a gente sair daqui vai dar de cara com um dinossauro pronto pra nos comer?...

      - Deixa de ser ignorante Maria! – respondeu Laura, impaciente. – No Piauí nunca foi encontrado fóssil algum de dinossauro....

      - Ignorante é você! Se os dinossauros habitaram o planeta durante mais de 130 milhões de anos, quem te garante que não passaram pelo Piauí? Só porque dizem que aqui é o fim do mundo?... - Quando Maria ficava zangada, sai debaixo!...

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      - Ei! de acordo com os números indicados nesse painel, nós realmente voltamos no tempo! - falou Beto.

      - Cara, isso é de-maaaiiiisss!!! – disse Laura animadíssima.

      Mas o ex-valente João Guilherme continuava apavorado:

      - Eu quero sair daqui e voltar pro acampamento – choramingou...

      - Vamos dar uma espiada lá fora e ver onde realmente estamos – disse Beto, sem dar bola pro amigo. Saíram da máquina e examinaram o interior da caverna. Parecia igual, mas como estava mais iluminado, puderam enxergar bem as paredes. Havia rabiscos por toda parte e com a luz dos celulares perceberam desenhos de gente e de animais.

      - Nossa, que bicho é esse? - perguntou Laura

      - E esse? E esse? E esses...? ― eram os outros três, espantados, se perguntando.

      - Graças a Deus não fomos longe. Agora vamos voltar pro acampamento?... - era João Guilherme apressando a volta.

Meio a contragosto, Laura, Maria e Beto seguiram João Guilherme que buscava a saída da caverna.

      - Vocês perceberam como a vegetação está mais verde e alta? – comentou Laura assim que se viram fora.

      - É mesmo! Que estranho, a caatinga não é assim. Estamos na estação de seca e ontem quando viemos, vocês se lembram? A vegetação estava bem cinzenta – falou Beto. – A classe tinha estudado poucos dias antes  os biomas brasileiros na aula de Geografia.

      De repente, um novo susto, e Maria gritando desesperada:

      - Aaaaiiiii.....o que é aquilo?

      - Meu Deus!!!.... Beto, você está vendo o que eu estou vendo? – falou Laura quase sem voz .

      - É um dinossauro!!! – gritou Maria.

      - Não, é um tatu-gigante...nós voltamos mesmo no tempo! – O aplicativo do tempo no celular de Laura agora mostrava 14.000 anos pra trás...

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Paralisados de espanto, os quatro se deram as mãos e ficaram olhando a figura imensa na pradaria logo abaixo. E as mãos se apertaram com mais força quando à figura do tatu-gigante se juntaram outras duas: uma espécie de lagarto monstruoso e uma portentosa cobra de mais de 10 metros.

Mas a coisa não parou por aí. De repente, da porta da caverna começaram a sair animais enormes e estranhíssimos e Laura mal conseguiu  balbuciar:

      - Eeeeesssseees aí parecem ter saído...

      Beto completou:

      - É... esses parecem ter saído dos desenhos das paredes da caverna!!!!!!

      João Guilherme nem se mexia mais. Maria, agarrada nele não conseguia tirar a vista do grupo de animais que crescia logo adiante.

      - Olha, gente, estão vendo dois homens e uma mulher também chegando?

Dois homens cabeludos e musculosos, com uma espécie de martelo nas mãos, se aproximavam do bando de animais acompanhados de uma mulher. Pareciam não temer os animais, embora todos fossem muito mais “volumosos” do que os três.

Era evidente que o aplicativo que Laura criara estava funcionando a todo vapor, agora traduzindo as ondas eletromagnéticas do local. Mostrava como viviam e o que faziam cada um daqueles bichos. E como os seres humanos se

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defendiam deles, de que forma se alimentavam e onde moravam. Coisas incríveis se descortinavam naquela pradaria.

Ainda que muito assustados, quatro tiveram a mesma reação. Com os celulares foram tirando fotos e mais fotos e mais fotos.

De repente, um pássaro gigante passou rente aos garotos e com a ponta da asa derrubou o celular de Laura sobre uma pedra. O aparelho fez clic-clic, acendeu e apagou a luz e quando Laura, refeita do espanto, recuperou o aparelho, viu que o aplicativo tinha desandado e corria em direção ao futuro. Quer dizer, voltava para o presente...

Tudo aconteceu num jato só. A pradaria foi sumindo e os quatro ouviram ruídos de pessoas chegando. A voz da professora Rosamira chamava:

      - Laura! Beto...ê meninos, cadê vocês????

      - Aqui, aqui, professora – responderam os quatro.

      - Puxa, onde vocês se meteram?

      - Ah, estávamos bem aqui, olhando...

      - Amanhã teremos grandes emoções. Visitaremos e examinaremos com calma os desenhos rupestres, escavações arqueológicas com registros de antigos tempos, remanescentes de vários milhares de anos...Vocês nem imaginam o que vamos encontrar agora ali dentro daquela montanha. – E a professora apontou para a já conhecida “porta da caverna”. – Vamos ter de usar toda nossa criatividade, a partir das  paredes e escavações, para imaginar como eram, como viviam, moravam e se relacionavam os imensos animais e os homens daquele tempo...

Os quatro se entreolharam,  sorriram e agarraram seus preciosos celulares agora mais cheios de tesouros. Falaram em uníssono (piscando o olho, para os companheiros – o que D. Rosamira não viu):

      - Puxa, vai ser DA HORA imaginar tudo isso, hein!

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Maria Eduarda, Alice, Ravenna, Rafaela, Glauco, Jéssica, Isadora, Carlos Eduardo, Carlos Henrique, Ramiro, Iasmim, Davi Yuri, Alan, Almir, Ana Carolini, Iana Maria, Antônio Luiz, Maria Luiza, Mateus, João Pedro, Jady, Theo, Enzo, Giovana, Auristé,  João Gabriel, Vladimir, Davi Araújo e Gabriel

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